LITERATURA – BRASILEIRA


Ano: 2012

  • HINO À DOR (Augusto dos Anjos)

    Dor, saúde dos seres que se fanam,Riqueza da alma, psíquico tesouro,Alegria das glândulas do choroDe onde todas as lágrimas emanam… És suprema! Os meus átomos se ufanamDe pertencer-te, oh! Dor, ancoradouroDos desgraçados, sol do cérebro, ouroDe que as próprias desgraças se engalanam! Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.Com os corpúsculos mágicos do tatoPrendo…

  • Seu Nome (Vander Lee)

    Quando essa boca disser o seu nome venha voandoMesmo que a boca só diga seu nome de vez em quando Posso enxergar no seu rosto um dia tão claro e luminosoQuero provar desse gosto ainda tão raro e misterioso…Do Amor Quero que você me dê o que tiver de bom pra darFicar junto de você…

  • A MÁSCARA (Augusto dos Anjos)

    Mascaras Eu sei que há muito pranto na existência,Dores que ferem corações de pedra,E onde a vida borbulha e o sangue medra,Aí existe a mágua em sua essência. No delírio, porém, da febre ardenteDa ventura fugaz e transitóriaO peito rompe a capa tormentóriaPara sorrindo palpitar contente. Assim a turba inconsciente passa,Muitos que esgotam do prazer…

  • Presságio (Fernando Pessoa)

    O AMOR, quando se revela,Não se sabe revelar.Sabe bem olhar p’ra ela,Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que senteNão sabe o que há de dizer.Fala: parece que mente…Cala: parece esquecer… Ah, mas se ela adivinhasse,Se pudesse ouvir o olhar,E se um olhar lhe bastasseP’ra saber que a estão a amar! Mas quem…

  • Liberdade (Fernando Pessoa)

    Ai que prazerNão cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer ! Ler é maçada, Estudar é nada. Sol doira Sem literatura O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como o tempo não tem pressa…Livros são papéis pintados com tinta.Estudar é uma…

  • Amar (Carlos Drummond de Andrade)

    Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?sempre, e até de olhos vidrados amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal, senãorodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou…

  • Em face dos últimos acontecimentos (Drummond)

    Oh! Sejamos pornográficos(docemente pornográficos).Por que seremos mais castosQue o nosso avô português? Oh! sejamos navegantesBandeirantes e guerreirosSejamos tudo que quiseremSobretudo pornográficos. A tarde pode ser tristeE as mulheres podem doerComo dói um soco no olho(pornográficos, pornográficos). Teus amigos estão sorrindoDe tua última resolução.Pensavam que o suicídioFosse a última resolução.Não compreendem, coitados,Que o melhor é ser…

  • Não sei Dançar (Manuel Bandeira)

    Ilustração de Ricardo Allonso Uns tomam éter, outros cocaína.Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.Tenho todos os motivos menos um de ser triste.Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria…Abaixo Amiel!E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.Perdi a saúde também.É por isso que sinto como ninguém o ritmo do…

  • Os Cegos Do Castelo (Nando Reis)

    Eu não quero mais mentirUsar espinhos que só causam dorEu não enxergo mais o inferno que me atraiuDos cegos do castelo me despeço e vouA pé até encontrarUm caminho, o lugarPro que eu souEu não quero mais dormirDe olhos abertos me esquenta o solEu não espero que um revólver venha explodirNa minha testa se anunciouA…

  • Todas as Cartas de Amor são Ridículas (Fernando Pessoa)

    Todas as cartas de amor sãoRidículas.Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas.Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. Quem me dera no…