Mês: abril 2013
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NÃO COMEREI DA ALFACE A VERDE PÉTALA (Vinicius de Moraes)
Não comerei da alface a verde pétalaNem da cenoura as hóstias desbotadasDeixarei as pastagens às manadasE a quem mais aprouver fazer dieta. Cajus hei de chupar, mangas-espadasTalvez pouco elegantes para um poetaMas pêras e maçãs, deixo-as ao estetaQue acredita no cromo das saladas. Não nasci ruminante como os boisNem como os coelhos, roedor; nasciOmnívoro; dêem-me…
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Como inútil taça cheia (Fernando Pessoa)
Como inútil taça cheiaQue ninguém ergue da mesa,Transborda de dor alheiaMeu coração sem tristeza.Sonhos de mágoa figuraSó para Ter que sentirE assim não tem a amarguraQue se temeu a fingir. Ficção num palco sem tábuasVestida de papel sedaMima uma dança de mágoasPara que nada suceda. Leia outros poemas de Fernando Pessoa Todas as Cartas de…
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Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes)
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegarOlhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olharE não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falarE nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar E então ela se fez bonita como há…
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Funeral de um lavrador (Chico Buarque)
TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO —— Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida. —— é de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe neste latifúndio. —— Não é…
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Morte e Vida Severina – Em Desenho Animado
O obra-prima de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina, foi adaptada para desenho animado pelo cartunista Miguel Falcão. A animação foi feita preservando o texto original da obra. Assista abaixo à animação completa: O desenho narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino, que migra do sertão para o litoral pernambucano em…
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SONETO DA HORA FINAL (Vinicius de Moraes)
Será assim, amiga: um certo diaEstando nós a contemplar o poenteSentiremos no rosto, de repenteO beijo leve de uma aragem fria. Tu me olharás silenciosamenteE eu te olharei também, com nostalgiaE partiremos, tontos de poesiaPara a porta de treva aberta em frente. Ao transpor as fronteiras do SegredoEu, calmo, te direi: – Não tenhas medoE…
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O VERBO NO INFINITO (Vinicius de Moraes)
Ser criado, gerar-se, transformarO amor em carne e a carne em amor; nascerRespirar, e chorar, e adormecerE se nutrir para poder chorar Para poder nutrir-se; e despertarUm dia à luz e ver, ao mundo e ouvirE começar a amar e então sorrirE então sorrir para poder chorar.E crescer, e saber, e ser, e haverE perder,…
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Pensamentos extraídos do livro "Do Caderno H" (Mário Quintana)
Mário Quintana A ARTE DE LER O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria. VENERAÇÃO Ah, esses livros que nos vêm às mãos, na Biblioteca Pública e que nos enchem os dedos de poeira. Não…
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Se eu fosse um padre (Mário Quintana)
Quintana Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,não falaria em Deus nem no Pecado— muito menos no Anjo Rebeladoe os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas:nada das suas celestiais promessasou das suas terríveis maldições…Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,Rezaria seus versos, os mais belos,desses que desde a…