Nélida Piñon é uma escritora brasileira nascida no Rio de Janeiro. Imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 1989, e foi a primeira (e única) mulher a presidir a instituição. Nélida escreveu diversos livros. Entre os mais consagrados estão: os romances A República dos Sonhos e Vozes no Deserto, ambos traduzidos para o inglês, a coletânea de contos O Calor das Coisas e a coletânea, quase autobiográfica, O Pão de Cada Dia – Fragmentos.
O Pão de Cada Dia é uma coleção de pequenos textos de Nélida, escritos ao longo de toda a sua vida. Esses excertos falam sobre quatro temas centrais: a família e suas origens, viagens pela Europa, a arte literária em si e seus escritores, religiosidade.
Sobre a família, logo no começo do livro descobre-se que a autora é filha de um pai da Galícia1, região da Espanha que fascina Nélida, assim como a Catalunha2. A mãe da escritora era uma mineira de São Lourenço, portanto, Nélida cresceu no meio de culturas distintas e soube aproveitar o melhor de cada uma delas.
“Na Catalunha a viajante sente-se em casa. Cercada pelos seus cenários apaixonantes, o coração sobressalta-lhe.”
No seu livro, Nélida nos faz perceber que ela teve o privilégio de ter aulas de escrita com Rachel de Queiroz3, outra imortal da ABL. Ela também menciona que conhecia de vista o imortal Tristão de Ataíde, muito religioso, que sempre a cumprimentava ao ir e voltar das missas. Nélida nos conta sobre sua amizade com Clarisse Lispector4, que infelizmente nunca foi eleita uma imortal da ABL. Nas palavras de Nélida:
“Cada dia Clarisse era um fardo cheio de esperança.”
Nélida nos faz conhecer o escritor Oswaldo França Júnior, um oficial da Aeronáutica que teve sua carreira interrompida pela Ditadura. Dedicou-se integralmente, a partir daí, à literatura. Nélida é uma fã apaixonada de sua obra. A autora também elogia efusivamente os escritores argentinos Júlio Cortázar e Manuel Puig.
A temática religiosa está presente, quando Nélida reconstrói as histórias bíblicas, como, por exemplo, as vidas dos reis Salomão e Davi e de Sara (mulher de Abrãao, considerada a mãe de todas as nações).
“Abraão, porém, a quem Deus prometera pródiga descendência, tinha Sara ao seu lado, como sombra e implacável observadora. Ela é a memória da outra cara de Deus.”
Além disso, a autora se dedica apaixonadamente a narrar a história de santos, que se destacaram pela sua excentricidade, como Margarida, Wilgefortis e Nicasius.
“Alguns santos são membros da minha seita pessoal. Por sua estranheza, eles auferem os lucros das minhas idiossincrasias.”
Num dos últimos textos, Nélida nos surpreende empregando termos quase desconhecidos, retábulo5, Tramontana6, incunábulo7. Uma breve busca na internet revela um mundo extraordinário, onde essas palavras são conhecidas e empregadas. Mas, isso é assunto para outro post… Até nosso próximo encontro!
Para saber mais sobre…
4Comentários sobre o livro Bonecos de Barro de Clarice Lispector:
7Veja os primeiros incunábulos de Portugal:
(Este é de autoria e responsabilidade do blog 500 Livros).
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