LITERATURA – BRASILEIRA


​Coração (Maria Thereza Noronha)

Pintura Retirantes de Candido Portinari

Coração


Morreu de faca no peito
quanto o coração só lhe falavade amor.
A faca se abriu em chaga
vermelha e meio com jeito de flor.

Morreu de febre no leito
quando o coração já lhe falhava
no peito.
Deixou órfãos e viúva.
Partiu num dia de chuva
sem palavras.
Morreu de foice no eito
enquanto o coração lhe sussurrava:
— que proveito?
Deu por perdida a batalha:
a sua, não o que restava
a ser feito.

Morreu de fome e direito
negado, quando o coração
só lhe dizia CHEGA! E o esqueleto
já se entrevia antes de enterrado.
Morreu de omissão:
assassinado.

Morreu de fúria e despeito
quando o coração se lhe inchava no peito.
E a epígrafe se destacava:
"Não será de ninguém
o que é meu.
De direito!"

- Maria Thereza Noronha

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Comments (

0

)

%d blogueiros gostam disto: