LITERATURA – BRASILEIRA


Tag: Poemas

  • Aquarela (Toquinho/Vinicius de Moraes)

    Numa folha qualquer eu desenho um sol amareloE com cinco ou seis retas é fácil fazer um casteloCorro o lápis em torno da mão e me dou uma luvaE se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuvaSe um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papelNum instante imagino uma linda gaivota a voar…

  • Amar (Drummond)

    Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal, senãorodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia,e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou…

  • Soneto (Gregorio de Matos)

    A cada canto um grande conselheiro,Que nos quer governar cabana, e vinha,Não sabem governar sua cozinha,E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüentado olheiro,Que a vida do vizinho, e da vizinhaPesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,Para a levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos Mulatos desavergonhados,Trazidos pelos pés os homens nobres,Posta nas palmas…

  • Onde Anda Você (Vinicius de Moraes)

    E por falar em saudadeOnde anda vocêOnde andam os seus olhosQue a gente não vêOnde anda esse corpoQue me deixou mortoDe tanto prazer E por falar em belezaOnde anda a cançãoQue se ouvia na noiteDos bares de entãoOnde a gente ficavaOnde a gente se amavaEm total solidão Hoje eu saio na noite vaziaNuma boemia sem…

  • Memória (Drummond)

    Amar o perdidodeixa confundidoeste coração. Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não. As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mão. Mas as coisas findas,muito mais que lindas,essas ficarão. Leia outros poemas de Drummond … Resíduo ​No meio do caminho Congresso internacional do medo Em face dos últimos acontecimentos Mãos Dadas

  • A Idéia (Augusto dos Anjos)

    De onde ela vem?! De que matéria brutaVem essa luz que sobre as nebulosasCai de incógnitas criptas misteriosasComo as estalactites duma gruta?! Vem da psicogenética e alta lutaDo feixe de moléculas nervosas,Que, em desintegrações maravilhosas,Delibera, e depois, quer e executa! Vem do encéfalo absconso que a constringe,Chega em seguida às cordas da laringe,Tísica, tênue, mínima,…

  • Morte e Vida Severina (João Cabral de Melo Neto)

    Os retirantes (Cândido Portinari) — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: há…