Tag: Poemas
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Tão cedo passa tudo quanto passa!
Tão cedo passa tudo quanto passa!Tão cedo passa tudo quanto passa!Morre tão jovem ante os deuses quantoMorre! Tudo é tão pouco!Nada se sabe, tudo se imagina.Circunda-te de rosas, ama, bebeE cala. O mais é nada.Tão CedoTão cedo tudo quanto passa!Morre tão jovem ante os deuses quantoMorre! Tudo é tão pouco!Nada se sabe, tudo se imagina.Circunda-te…
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Aflição de ser eu e não ser outra …
Aflição de ser eu e não ser outra.Aflição de não ser, amor, aquelaQue muitas filhas te deu, casou donzelaE à noite se prepara e se adivinhaObjeto de amor, atenta e bela.Aflição de não ser a grande ilhaQue te retém e não te desespera.(A noite como fera se avizinha)Aflição de ser água em meio à terraE…
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ERRO (Machado de Assis)
Adicionar legenda Erro é teu. Amei-te um diaCom esse amor passageiroQue nasce na fantasiaE não chega ao coração;Não foi amor, foi apenasUma ligeira impressão;Um querer indiferente,Em tua presença, vivo,Morto, se estavas ausente,E se ora me vês esquivo,Se, como outrora, não vêsMeus incensos de poetaIr eu queimar a teus pés,É que, — como obra de um…
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Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência (Cecília Meireles)
Através de grossas portas,sentem-se luzes acesas,— e há indagações minuciosasdentro das casas fronteiras:olhos colados aos vidros,mulheres e homens à espreita,caras disformes de insônia,vigiando as ações alheias.Pelas gretas das janelas,pelas frestas das esteiras,agudas setas atirama inveja e a maledicência.Palavras conjeturadasoscilam no ar de surpresas,como peludas aranhasna gosma das teias densas,rápidas e envenenadas,engenhosas, sorrateiras. Atrás de portas…
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Com licença poética (Adélia Prado)
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo…
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Drumundana (Alice Ruiz)
e agora maria? o amor acaboua filha casouo filho mudouteu homem foi pra vidaque tudo criaa fantasiaque você sonhouapagouà luz do dia e agora maria?vai com as outrasvai vivercom a hipocondria Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade. Alice Ruiz
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MULHER AO ESPELHO (Cecília Meireles)
Mulher em frente ao espelho Autor: Pablo Picasso Hoje, que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta.Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz,já fui Maria e Madalena.Só não pude ser como quis.Que mal fez essa cor fingidado meu cabelo, e do meu rosto,se é tudo…
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Suave Mari Magno (Machado de Assis)
Baleia in Nelson Pereira dos Santos’ Vidas Secas (1963). Lembra-me que, em certo dia,Na rua, ao sol de verão,Envenenado morriaUm pobre cão. Arfava, espumava e ria,De um riso espúrio e bufão,Ventre e pernas sacudiaNa convulsão. Nenhum, nenhum curiosoPassava, sem se deter,Silencioso, Junto ao cão que ia morrer,Como se lhe desse gozoVer padecer. Poema extraído de…
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A medida do abismo (Vinicius de Moraes)
Não é o gritoA medida do abismo?Por isso eu gritoSempre que cismoSobre tua vidaTão louca e errada…– Que grito inútil!– Que imenso nada! Veja também outros poemas de Vinicius de Moraes … A hora íntima Dialética Soneto da Fidelidade Aquarela Soneto da Hora Final
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Resíduo (Drummond)
Fotografia: Carlos Drummond e sua filha Maria Julieta de Andrade. De tudo ficou um poucoDo meu medo. Do teu asco.Dos gritos gagos. Da rosaficou um pouco.Ficou um pouco de luzcaptada no chapéu.Nos olhos do rufiãode ternura ficou um pouco(muito pouco).Pouco ficou deste póde que teu branco sapatose cobriu. Ficaram poucasroupas, poucos véus rotospouco, pouco, muito…